Crítica - Paranormal Activity (2009)


Realizado por Oren Peli
Com Katie Featherston e Micah Sloat

O conceito não é novidade. A técnica narrativa muito menos. Fica, no entanto, o brilhantismo das coisas mais simples e do poder tremendo da sugestão em detrimento da aposta em efeitos especiais mirabulantes que o cinema contemporâneo parece privilegiar. Com Actividade Paranormal, um pequeno e esforçado filme do israelo-americano Oren Peli, somos relembrados da verdadeira essência do cinema: uma câmara, um ponto narrativo de tensão e a constante tentativa de alimentar emoções na audiência. Actividade Paranormal vem precisamente no seguimento do sucesso de filmes como Blair Witch Project (1999) ou mais recentemente REC (2008) e Cloverfield (2008), em que o trabalho de filmagem é apoiado nas próprias personagens. A diferença, essa, está na qualidade com que esse trabalho é feito neste pequeno projecto, procurando-se sempre apoiar a narrativa numa grande coerência de movimentos, de forma a que a filmagem corresponda às expectativas.Beneficiando, uma vez mais, de uma máquina promocional muito forte, apoiada no boca a boca, Actividade Paranormal funciona muito bem enquanto filme conceito. Respira e deixa respirar a acção, envolvendo a audiência de princípio ao fim, jogando brilhantemente com as nossas expectativas. No centro da narrativa - por si própria uma belíssima convocatório dos princípios mais primitivos do género horror - temos um jovem casal de namorados, Micah e Katie e a forma como procuram lidar com um conjunto de estranhos fenómenos que se vão desenrolando em torno da casa onde moram desde que resolveram partilhar o seu espaço.

Somos como que lançados para o meio do conflito,uma vez que a acção começa precisamente no ponto em que Micah resolve filmar tudo o que acontece na casa, com o objectivo de ajudar a namorada a lidar com todos os factos aparentemente inexplicáveis que vão acontecendo. Está assim lançada a premissa central para uma história que nos confronta constantemente com os medos mais primitivos do ser humano e, arriscaria dizer, por isso mesmo mais terriveis de enfrentar: que sons serão aqueles que ouvimos constantemente à nossa volta quando estamos sozinhos em casa, no escuro? Por esta altura é já senso comum a ideia que serviu de base a este curioso fenómeno de bilheteiras. Oren Peli terá alegadamente considerado a possibilidade de fazer o filme com os poucos meios de que dispunha no seguimento de um episódio que aconteceu naquela mesma casa onde a acção é rodada: um qualquer objecto teria caído durante a noite de uma prateleira, causando um pequeno sobressalto. Um episódio simples, que provavelmente acontece diariamente em nossa casa e que é aqui posto em destaque, com uma aproximação a conceitos tão caros a filmes como o brilhante The Exorcist (1973), de William Friedkin ou Poltergeist (1982), de Tobe Hooper. O fascínio e temor que o espiritismo e demonologia parecem exercer nas sociedades contemporâneas conhece aqui um novo capítulo, com argumentos de peso. Com aqueles dois jovens que têm forçosamente de conviver com os pequenos ruídos das suas existências estamos todos nós. A força dramática conseguida pelos jovens actores Micah Sloat e Katie Featherston está precisamente nesse factor de auto-identificação com este "nós" que é confrontado com os mesmos medos de formas diversas. A simples possibilidade de estarmos a ser observados durante a noite é algo que atormenta e que muitas vezes passará pelas nossas mentes. Tudo, conceitos que fazem parte do medo humano, que este Actividade Paranormal explora engenhosamente com uma simplicidade que incomoda. Confirma-se, uma vez mais, que o grandes filmes são muitas vezes aqueles que conseguem reafirmar aquilo que todos nós sabemos de tão simples que é...

Classificação - 4 Estrelas Em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>