Crítica - Ted (2012)

 
Realizado por Seth MacFarlane
Com Mark Wahlberg, Mila Kunis, Seth MacFarlane, Giovanni Ribisi

Se vivem neste planeta, decerto já terão ouvido falar de “Family Guy”, “American Dad” e “The Cleveland Show”, as séries animadas mais irreverentes e desbocadas da atualidade televisiva. Decerto já terão também ouvido falar do seu criador, Seth MacFarlane, um indivíduo que não tem medo de dizer aquilo que pensa através das suas criações e que, como consequência disso, já subiu ao topo da lista dos homens mais odiados pelos conservadores norte-americanos. De facto, o humor de MacFarlane é tudo menos convencional, havendo mesmo quem o ache totalmente ordinário. Porém, ainda que por vezes possa ser excessivamente violento e obsceno, o humor de MacFarlane não deixa de elaborar uma crítica severa (e bastante precisa) ao way of living norte-americano, sendo impossível ficar-lhe indiferente. “Ted” marca a estreia do produtor/realizador/argumentista nas longas-metragens com atores de carne e osso, e podemos dizer que, conforme se esperava, o teor da comédia é exatamente o mesmo das séries animadas supracitadas. Assim sendo, se gostam de “Family Guy”, de “American Dad” e de “The Cleveland Show”, não pensem duas vezes; corram o mais rápido que possam até ao cinema mais próximo e comprem um bilhete para este filme que promete chocar muito boa gente. Se, pelo contrário, não puderem com o humor agressivo e por vezes gratuito de MacFarlane, então fujam deste “Ted” como o Diabo foge da cruz. 

 

John (Mark Wahlberg na versão adulta da personagem) é um menino com enormes dificuldades em fazer amizades. Os outros rapazes da vizinhança (mesmo os mais desgraçados) só querem vê-lo pelas costas, forçando-o a cair num isolamento nada salutar e deveras preocupante. Sem capacidade de formar laços de amizade com os seus congéneres, John constrói então um elo muito forte com um urso de peluche que lhe é oferecido no Natal e que ele apelida de Ted (Seth MacFarlane). Numa noite como tantas outras, o menino deseja que o seu novo melhor amigo ganhe vida própria, para que possa acompanhá-lo ao longo de toda a vida. E na manhã seguinte, eis que o urso começa a andar e a falar como se fosse um ser humano, apanhando a família do rapaz verdadeiramente de surpresa. Encarado como um milagre de Natal, Ted rapidamente se torna um ídolo da nação, comparecendo em talk-shows televisivos e assinando autógrafos na rua. Porém, o tempo passa a voar. E quando dão por si, John é já um trintão com dificuldades em abandonar o espírito de infância e Ted é um fumador de ganza compulsivo com uma língua afiada e a quem já poucos prestam atenção. Está servida a receita para a balbúrdia total…

   

Já há muito tempo que não víamos uma sala de cinema esgotada a rir às gargalhadas de cinco em cinco minutos. Estamos habituados a assistir àquelas comédias em que a audiência se ri quase por favor, como se não estivesse a achar piada nenhuma aos eventos da tela, mas se sentisse na obrigação de soltar um risinho tímido em prol do esforço dos atores. Pois bem, em “Ted” isso não acontece. “Ted” leva as pessoas a rir com vontade genuína, como há muito não se via. E essa é a prova máxima da sua competência enquanto comédia elaborada com o singular propósito de colocar a audiência a chorar de tanto rir. É certo que muito do humor provém das asneiradas do ursinho e de algumas sequências físicas, deixando a nu um tipo de comédia tipicamente gratuito e até mesmo ordinário. Porém, MacFarlane tem muitos truques na manga, não se socorrendo apenas do humor físico e asneirento para entreter o espectador (como tantas vezes acontece nas comédias norte-americanas modernas). Habilmente, MacFarlane mistura esses momentos cómicos com tiradas satíricas absolutamente deliciosas, disparando em todas as direções e levando o espectador ao auge do regozijo. Para além do mais, MacFarlane está-se nas tintas para o convencionalismo que a maior parte dos estúdios defende, oferecendo-nos sequências que não estamos habituados a ver com muita frequência (como criancinhas a levarem murros de adultos corpulentos e sabonetes líquidos a fazerem de sémen). Há qualquer coisa de especial no ato de ver um ursinho de peluche fofinho a cuspir asneiradas como se não houvesse amanhã e a fumar ganza até cair para o lado. Talvez pelo facto de associarmos um ursinho de peluche a uma infância inocente, é impossível assistirmos às cenas de Ted a falar com o patrão do supermercado (só para referir um exemplo) sem quase cairmos para o lado de tanto rir às gargalhadas. Depois de um cão filósofo (o Brian de “Family Guy”) e de um extraterrestre efeminado (o Roger de “American Dad”), MacFarlane apresenta-nos agora um ursinho de Boston com mais língua do que cérebro. E o resultado é explosivo. “Ted” não é perfeito, mas é uma comédia para adultos com tiradas cómicas que realmente têm piada e com sequências tão ridículas que nos ficarão na memória por muitos e bons anos. Não é para todos, mas para os fãs de MacFarlane é imperdível. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

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