Crítica - Cowboys & Aliens (2011)


Realizado por Jon Favreau
Com Daniel Craig, Harrison Ford, Olivia Wilde, Sam Rockwell, Adam Beach

À primeira vista, sem se conhecer o projecto e os nomes a ele associados, “Cowboys & Aliens” poderia ser confundido com um qualquer filme de comédia ou pérola do cinema chunga, tal é a excentricidade do par formado pelo título. Juntar cowboys e extraterrestres num mesmo filme é um passo arriscado, tal é a vastidão de espaço que separa os géneros do western e da ficção-científica. Vimos essa bizarra junção em “Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull” e o resultado foi o que já todos sabemos: desilusão geral. Porém, nomes como Steven Spielberg, Jon Favreau, Daniel Craig, Harrison Ford, Ron Howard e Brian Grazer acabaram por trazer alguma credibilidade ao projecto. Steven Spielberg é o Rei de Hollywood, Jon Favreau saiu-se muito bem com os dois filmes de Iron Man, Harrison Ford é a encarnação de Indiana Jones e Han Solo, Daniel Craig é um dos James Bond mais convincentes de todos os tempos, Ron Howard é o realizador do oscarizado “A Beautiful Mind” e Brian Grazer o produtor desse mesmo filme de 2001. Ora, com vista à criação de uma obra de sucesso, que melhor equipa do que esta? Com uma equipa de cineastas tão talentosa como esta, esperava-se de facto que “Cowboys & Aliens” ultrapassasse as desconfianças iniciais e se afirmasse como um dos títulos mais apelativos e entusiasmantes do ano. Pois bem, a nível puramente técnico, é justo dizer que estamos perante um dos maiores triunfos de 2011. Mas a nível narrativo, esta obra deixa muitíssimo a desejar, apresentando-nos um desenrolar de acontecimentos que se torna cada vez mais pobre e inverosímil a cada segundo que passa, prejudicando (e de que maneira) tudo aquilo que ela tem de melhor.


Jake Lonergan (Daniel Craig) é um fora-da-lei que acorda no meio do deserto com um ferimento na barriga e uma estranha pulseira de metal no pulso esquerdo. Confuso, amnésico e desorientado, Jake dirige-se até à vila mais próxima para beber um trago e aclarar ideias. Mas mal chega à vila, os problemas insistem em persegui-lo. Sob o manifesto de que Jake é um criminoso procurado pelas autoridades, o Xerife local leva-o para a cadeia e promete-lhe dias difíceis. É nessa altura que Woodrow Dolarhyde (Harrison Ford) – um vaqueiro com enorme influência sobre os destinos da vila – se chega à frente, reclamando o prisioneiro para si mesmo devido a conflitos de um passado que Jake desconhece. E é também nesse momento que extraterrestres vindos do nada atacam a vila com as suas naves espaciais, destruindo tudo o que lhes aparece à frente e raptando uma boa parte da população com vista a experiências laboratoriais. Passado o pior, Jake e Dolarhyde compreendem que têm de deixar as suas desavenças para trás das costas. Pois apenas a união de esforços e o trabalho de equipa os levarão a salvar a população sequestrada e a preservar o seu tão adorado modo de vida. E a pulseira de metal em redor do pulso de Jake revela-se a única arma verdadeiramente eficaz contra tais criaturas vindas do céu…


“Cowboys & Aliens” começa muito bem. A primeira meia hora é de grande qualidade, introduzindo o espectador num tempo e espaço tão peculiarmente brutal de forma eficaz e arrebatadora. O problema é que a partir do momento em que os sobreviventes da vila partem em busca dos malditos extraterrestres, a película perde consistência a uma velocidade estonteante, decrescendo continuamente de qualidade até encerrar o pano com um final forçado e demasiado sensaborão. Tecnicamente, estamos perante um filme excelente. A fotografia é espantosa, a banda-sonora de Harry Gregson-Williams não passa nada despercebida (estará aqui o futuro John Williams?), a caracterização e o guarda-roupa são fiéis à época, enfim, nota-se perfeitamente que estamos perante uma obra com altíssimos valores de produção. O que é pena é que (como tantas vezes acontece nestes filmes) o argumento não esteja à altura da ocasião, forçando Favreau, Spielberg e companhia a brindar o espectador com uma história muito pouco verosímil e personagens pouco ou nada convincentes. Daniel Craig e Harrison Ford ainda se vão safando (em conjunto com Sam Rockwell, que em conjunto com Craig tem aqui a performance mais bem conseguida). Mas quase todos os outros actores pagam a factura de personagens demasiado caricaturais, com especial destaque para a Ella Swenson de Olivia Wilde, que não nos convence nem um bocadinho. De facto, é notório que, a certa altura, “Cowboys & Aliens” faz opções narrativas algo duvidosas (para não dizer muito duvidosas), estragando completamente tudo aquilo que a fita ia apresentando de bom até então. E por muito bons que os aspectos técnicos da película sejam, falhas narrativas assim tão evidentes acabam por dar cabo de tudo e mais alguma coisa.


“Cowboys & Aliens” é um daqueles filmes que começa bem, perde fulgor a meio e acaba com uma enorme tremedeira. Nota-se que toda a equipa (desde os actores aos técnicos de efeitos especiais) se esforça por fazer com que uma fórmula tão bizarra quanto esta funcione da melhor maneira possível. Mas as escolhas narrativas desastrosas levam a que as personagens desenvolvam laços de amizade demasiado forçados, tornando tudo um pouco infantil e inconsequente. Não há dúvida de que entretém, cumprindo o seu principal propósito com excelência e ficando longe do chamado desastre cinematográfico. Mas de forma alguma consegue atingir os patamares de qualidade a que se propunha, desiludindo um pouco o espectador mais exigente.

Classificação – 3 Estrelas Em 5

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