Crítica - The Time Traveler's Wife (2009)

Realizado por Robert Schwentke
Com Eric Bana, Rachel McAdams, Ron Livingston

Com um longo e inexplicável ano de atraso, eis que “The Time Traveler’s Wife” – adaptação cinematográfica do homónimo best-seller de Audrey Niffenegger – chega às salas de cinema portuguesas. O belo e comovente romance de Niffenegger teve o dom de encantar milhares de pessoas um pouco por todo o mundo. Assim sendo, a adaptação cinematográfica afigurava-se como o próximo passo lógico a efectuar. Querendo assegurar-se de que não destruíam a magia da matéria-prima literária, os produtores tiveram o cuidado de contratar os serviços de uma vasta equipa de profissionais talentosos e competentes. Para o fulcral posto de realizador, Robert Schwentke – realizador alemão já premiado no “nosso” Fantasporto com “Tattoo”, a sua obra de estreia no ano de 2002 – foi o escolhido. Para construir um equilibrado e cativante argumento, Bruce Joel Rubin (vencedor do Oscar de Melhor Argumento Original por “Ghost”) entrou em acção. E para assumir os papéis principais desta complexa e delicada trama fantasista, os produtores apostaram em Eric Bana e Rachel McAdams – talvez dois dos actores mais carismáticos e com mais potencial da actualidade. Em fruto de todas estas cautelosas escolhas, “The Time Traveler’s Wife” floresce como um original e genuinamente belo filme romântico difícil de resistir.


A narrativa revela-se um pouco mais complexa e bizarra do que, inicialmente, se poderia antever. Henry DeTamble (Bana) é um alienado jovem solitário que vive com um talento (ou, por vezes, uma maldição) singular: devido a uma desconhecida deformação genética, ele tem o dom de viajar no tempo. Incapaz de controlar o despoletar destas breves viagens no tempo, Henry vê-se obrigado a desaparecer (literalmente) no ar nos momentos mais inoportunos, deixando apenas as suas roupas para trás. Desde a trágica e acidental morte da sua mãe que Henry vive com este talento muito próprio, um talento que mais ninguém parece possuir. E como consequência, ele torna-se um indivíduo soturno e perfeitamente incapaz de se inserir na sociedade que o alberga. Mas tudo muda quando Henry conhece Clare Abshire (McAdams). De forma inesperada e quase surreal, a bela e simpática Clare diz a Henry que já o conhece desde criança… apesar de ele, no presente momento, ainda não a conhecer a ela. Aos poucos e com a ajuda de Clare, Henry percebe que deixou uma marca profunda no espírito da jovem, através de viagens retrógradas no tempo que ainda não aconteceram. E à medida que o tempo passa, Henry e Clare acabam por cumprir o destino de ambos… casando-se e amando-se com todo o fulgor dos seus corações. Porém, o seu grande amor depara-se, inevitavelmente, com poderosas contrariedades. Henry continua a desaparecer nos momentos mais despropositados e Clare apercebe-se de que ser esposa de um viajante no tempo acarreta sacrifícios para os quais não se sente preparada… E para além disso, dois trágicos acontecimentos abalam a vida do casal e fazem-nos temer pelo futuro da apaixonada relação.


Numa altura em que o filme romântico parece estar condenado a surgir nas salas de cinema sob a forma de banais e medíocres comédias românticas, “The Time Traveler’s Wife” afirma-se como uma imensa e agradável lufada de ar fresco neste popular género cinematográfico. A mais recente obra de Schwentke é, acima de tudo, um credível e comovente drama pautado por interpretações seguras quanto baste e, felizmente, uma narrativa fresca, criativa, inspirada e deveras original.
Nos últimos anos, os filmes românticos que nos chegam de Hollywood apresentam sempre o mesmo fio narrativo, contribuindo para uma imagem algo desgastada deste género cinematográfico. Qualquer espectador mais exigente perde o interesse nessas películas porque, mesmo antes de entrar na sala, já sabe exactamente como todo o filme vai decorrer. A fórmula é sempre a mesma. Fatalmente, a acção decorre sistematicamente em quatro actos: dois jovens conhecem-se por simples e feliz acaso; ambos se apaixonam loucamente e vivem um fantástico período de “lua-de-mel”; algo de mau acontece e os “pombinhos” zangam-se, dando a impressão de que a história vai acabar mal; mas no fim, um deles compreende que cometeu um erro e desata numa louca perseguição até encontrar o seu amado, pedir-lhe desculpa, dizer-lhe que o ama para toda a eternidade e trocar um beijo apaixonado ao som de vibrantes e pirosos violinos… antes mesmo de se virarem, todos sorridentes, para a câmara e os créditos começarem a rolar. Bom… felizmente, “The Time Traveler’s Wife” não apresenta esta fórmula comercial pirosa e mais que desgastada. Como referido anteriormente, “The Time Traveler’s Wife” é um drama cautelosamente trabalhado, valorosamente imaginativo e bem capaz de deixar uma lágrima no canto do olho.


Com uma história tão complexa e tão rica em importantes detalhes, seria muito fácil dar cabo da matéria-prima e presentear o espectador com um filme narrativamente desequilibrado e criativamente medíocre. Reconhecendo este facto, dou os meus parabéns a Schwentke e a Rubin (realizador e argumentista, respectivamente). Pois no meio de tantas viagens no tempo e saltos narrativos, ambos conseguiram dar vida a uma película que, maravilhosamente, faz todo o sentido no seu final. Apesar de algumas (mínimas) incongruências, o argumento está muito bem construído e a realização consegue captar tudo aquilo que é necessário para colocar o espectador a par de tudo o que se passa. No capítulo das interpretações, é Rachel McAdams quem brilha mais alto. A construção da sua personagem respira credibilidade e a actriz faz-nos ansiar por mais desafiantes interpretações num futuro muito próximo. Eric Bana, apesar de competente e genuinamente empático, acaba por vacilar um pouco. A certos pontos, nota-se um esforço algo exagerado em atribuir alguma dose de simpatia à sua personagem, o que o faz perder alguns pontos mas não humilha por completo a sua prestação.
Em suma, estamos perante um filme romântico diferente do habitual e ao qual se deve prestar alguma atenção. É certo que o seu formato melodramático continua a inserir-se, por inteiro, numa fórmula de contar histórias reconhecidamente “hollywoodesca” e, a pouquíssimos espaços, algo previsível. Mas apesar disso, o que é certo é que o produto final funciona e é eficaz, pelo que não faz sentido criticar essa mesma abordagem “hollywoodesca”. “The Time Traveler’s Wife” é um dos filmes mais doces e cativantes dos últimos anos. Demorou a chegar, mas agora que se encontra entre nós, vale a pena dar-lhe uma espreitadela.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. Gostei da crítica e adorei o filme.
    Parabéns.

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  2. é uma pena estes filmes chegarem com tanto atraso às nossas salas (quando chegam). e é uma pena também o sotaque do actor principal, não posso com aquilo!

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  3. Parabéns pela excelente critica ao filme, à qual estou em total sintonia com o que diz. Finalmente álguém percebeu o filme e tudo o que ele recupera homenageando uma época de ouro de romance hollywood, onde existia criatividade e se sabia contar romances.

    Fiz há dias a minha amadora review também... mas a sua está muito melhor:
    http://armpauloferreira.blogspot.com/2010/06/cinedupla-box-time-travelers-wife.html

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