Crítica - Un Prophète (2009)

Realizado por Jacques Audiard
Com Tahar Rahim, Niels Arestrup, Adel Bencherif

A questão da integração dos imigrantes tem sido um tema tratado de forma recorrente no cinema europeu dos últimos anos e no francês em particular. No tratamento desse tema tem-se procurado-se reflectir sobre as profundas transformações sociais que a imigração maciça para e dentro da Europa vem gerando. Em “Un Prophète”, o realizador de “De Battre mon Coeur s’est Arrêté” conta-nos a história de um jovem recluso corso descendente de árabes, Malik El Djebena (Tahar Rahim), que dentro da prisão é forçado a integrar-se num dos grupos dominantes a quem presta serviços e onde, durante o período em que cumpre a sua sentença de seis anos, aprende a ser um verdadeiro gangster.
Esta história de bandidos tem mais credibilidade que aquelas a que Hollywood no habituou porque nos é próxima. Sabemos que se vende droga à nossa porta, sabemos que vivem na mesma cidade que nós pessoas originárias de muitos países culturalmente muito distintos do nosso, e compreendemos facilmente que os crimes também se passam debaixo dos nosso olhos, se bem que num mundo paralelo onde normalmente não entramos. A narrativa vai porém além da história de bandidos ao pôr em confronto dentro de um espaço fechado, com regras tácitas muito definidas como é o da prisão, grupos de criminosos unidos por questões culturais, religiosas, entre outras, os corsos e os muçulmanos.


Um assassínio dentro da prisão, as motivações do assassino, o impacto emocional que esse crime exerceu sobre si mesmo dá uma dimensão espiritual ao filme, justificando o seu título. Essa dimensão, que se aproxima das crenças muçulmanas, justifica a adesão ao credo por parte do protagonista e de algum modo marca a clivagem enorme, mesmo quando coexistem no mesmo espaço, entre o mundo ocidental cristão, cada vez mais afastado da igreja, e o profundamente religioso universo muçulmano. Esta ideia, as mudanças que se operam no interior da prisão e no próprio interior do Malik são um sinal de alerta para a força que esta religião está a ganhar não só nos países árabes mas também dentro da Europa.
Um filme de gangsters na França do século XXI distingue-se dos seus antecessores norte-americanos não só pela nacionalidade dos intervenientes mas também pelo próprio estilo da narrativa. Decorrendo a um ritmo excessivamente lento o filme, que teria muito a ganhar se fosse encurtado em uma hora, conduz-nos no percurso de evolução interior de Malik e na sua enorme capacidade de se adaptar às circunstâncias. Ele é criminoso desde que nasceu e não pretende de forma alguma deixar de o ser. Compreendemos a ineficácia da prisão enquanto espaço de recuperação do indivíduo, embora seja só aí, aos dezanove anos, que o protagonista aprende a ler e a escrever. Compreendemos também o modo como o cinema de Hollywood e toda a cultura americana nos marcou profundamente, através de um fabulosa banda sonora usada muito oportunamente. Ficamos contudo numa indefinição. É-nos contada uma história com um final muito ingénuo e pouco original não nos deixando grandes margens para desenvolver o fio narrativo. As coisas são como são e nós não podemos fazer nada quanto a isso. Ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. O filme é um forte candidato ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

Escrito por Ana Campos

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1 Comentários

  1. Brilhante Ana. Gostei muito do teu texto... focas um ponto fundamental deste filme.. o facto termos como cenário de confronto a prisão. É o espaço castrador por natueza e funciona aqui como uma espécie de microcosmo da sociedade francesa, e ocidental em geral. Este filme tem aquela sensibilidade europeia... não sei se será o mais forte candidato aos oscares, mas sei que é um tema muito caro à sociedade americana... vamos ver

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