Critica - The Jacket (2005)

Realizado por John Maybury
Com Adrian Brody, Keira Knigthley, Kris Kristofferson, Daniel Craig

Depois de miraculosamente recuperar de um ferimento provocado por um tiro na cabeça, o veterano da guerra do golfo de 1991, Jack Sparks (Adrian Brody) regressa à sua Vermont natal. Amnésico, e ainda perturbado, Sparks acaba por se ver envolvido num homicídio, estranha situação que leva ao seu internamento numa instituição psiquiátrica. O pesadelo de Sparks começa precisamente no momento em que é submetido ao tratamento experimental do Dr. Thomas Becker (Kris Kristofferson), que acredita conseguir como que programar uma nova vida aos seus pacientes através da injecção de drogas e dos seus enclausuramentos em gavetas da morgue, enquanto estão presos num colete de forças. Será precisamente esse momento de enclausuramento físico, e tortura psicológica, que estará no âmago da narrativa, conferindo-lhe uma intensidade dramática preponderante que eleva este esforço de Mabury à categoria de verdadeiro thriller psicológico.

A mente danificada de Sparks acaba por lhe permitir viajar no tempo num ponto narrativo que não convence particularmente a crítica. Este pequeno filme de Maybury revela-se de forma interessante enquanto película de personagens, pelo que a escolha do elenco é bastante feliz. Através da cuidada interpretação de Brody, depois dos sucessos de The Pianist (2002), ou The Village (2004), acompanhamos sobretudo o percurso psicológico de uma personagem atormentada pelas visões da guerra e pela condenação que sofre. A expressividade do actor revela-o enquanto escolha ideal para este papel – Halle Berry era a outra hipótese –, já que consegue reflectir o torpor mental que o papel exigiria. Não sendo um dos melhores filmes do actor, acaba por ser um trabalho à medida das suas características. Por outro lado, Knightley surge aqui com um registo bastante mais maduro e intenso do que aquele imprimira nos sucessos de bilheteira anteriores, Pirates of the Caribbean (2003) e Pirates of The Caribbean: The Curse of the Black Pearl (2003). A composição de ambas as personagens, contrapostas pelo regresso de Kristofferson ao grande ecrã, aqui com um registo mais macabro, acaba na verdade por ser o ponto aglutinador de toda a narrativa que, por si só, é um convite à suspensão de qualquer ideia de verosimilhança, a partir do momento em que a mente de Sparks e o seu enclausuramento funcionam enquanto veículo para o estabelecimento de um curioso jogo de percepções temporais com a audiência. O colete de forças, que dá título ao filme, é na verdade a alavanca para o estabelecimento de uma certa confusão temporal que se revela enquanto o elemento de maior originalidade, mas também de maior discussão. O argumento, tendo por base a resposta da justiça a um crime, concretiza nas sequências em que acompanhamos o enclausuramento de Sparks no exíguo espaço da gaveta da morgue a violência da perturbação que define a personagem. A sua mente não é de confiança, pelo que se esperaria um outro desenrolar dos acontecimentos à medida que a acção caminha para o seu fim. De certa forma, esperaríamos que aquela acção psicológica surrealista que domina todo o filme não tivesse uma concretização física. No fim, fica talvez uma sensação de frustração. Somos convidados a interpretar a mente de Sparks, a não confiar nela, pelo que se esperaria que a narrativa consubstanciasse isso mesmo. Algo que não acontece.

Classificação - 2 Estrelas Em 5

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