Crítica - Surrogates (2009)

Realizado por Jonathan Mostow
Com Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike

Os espectadores nacionais ficarão irremediavelmente agradados com “Surrogates”, caso apreciem as características mais superficiais e apelativas do género mais futurista e irrealista da sétima arte, caso contrário, deverão evitar esta produção que aposta em inúmeras sequências de acção que abafam completamente as tímidas abordagens intelectuais das grandes temáticas levantadas pela sua história.
O filme abre com uma agradável introdução que resume satisfatoriamente os principais acontecimentos dos catorze anos anteriores à acção da história, onde somos elucidados sobre os avanços tecnológicos da indústria robótica e consequentemente, sobre as mudanças que esses avanços científicos provocaram em diferentes sociedades mundiais. Ao longo da explicação, concluímos facilmente que os robôs daquela época são extremamente avançados, sendo constantemente utilizados pela maioria da população mundial como substitutos cibernéticos, ou seja, enquanto os humanos ficam comodamente instalados em casa, os robots, aparentemente semelhantes aos seus respectivos proprietários, desempenham todas as suas tarefas laborais e sociais, uma situação que provoca uma incessante mordomia da sociedade, algo que é fortemente criticado pela resistência, um grupo relativamente anarquista que pretende acabar definitivamente com essa situação. A pequena explicitação efectuada pela introdução, ajuda-nos a compreender melhor os sucessivos acontecimentos do desenvolvimento que é desencadeado pelo misterioso homicídio do único filho do principal impulsionador da tecnologia dos substitutos cibernéticos. O fatídico sucedido põe em causa a verdadeira funcionalidade do sistema cibernético porque o humano foi assassinado através do seu substituto, algo que desencadeia uma investigação especial aos meandros da indústria tecnológica, uma vez que uma das principais razões da sua existência era a garantia de segurança dos indivíduos que os adquiriam. Tom (Bruce Willis) e Peters (Radha Mitchell), os dois agentes especiais responsáveis pela investigação, são obrigados a desvendar rapidamente este mistério antes que exista um verdadeiro colapso social à escala mundial.


O argumento expõe algumas temáticas relativamente interessantes que infelizmente são completamente ostracizadas pelas inúmeras sequências de acção, uma situação amplamente justificada pelas características nitidamente comerciais desta produção policial. A sua história é inteiramente baseada numa novela gráfica de qualidade que aprofunda, com alguma destreza, os seus temas mais polémicos, incitando constantemente ao debate entre os leitores, uma situação que infelizmente não se aplica à versão cinematográfica. A investigação efectuada pelas personagens principais não é aborrecida ou previsível. Existem inúmeras reviravoltas que baralham constantemente os elementos motivacionais dos crimes efectuados, algo que confunde repetidamente o espectador mas que acrescenta imprevisibilidade à história que apenas peca pela falta de profundidade das temáticas tecnológicas e pela presença excessiva de dramas pessoais, maioritariamente relacionados com precoces perdas de filhos e complexas relações amorosas.
A realização de Jonathan Mostow é extremamente artificial e impessoal. O especialista em trabalhos de ficção cientifica não conseguiu impingir uma dimensão minimamente credível ao filme, no entanto, comandou com alguma habilidade o desenvolvimento da história, mostrando alguma preocupação em explicar pormenorizadamente os acontecimentos anteriores ao inicio da narrativa e os avanços mais complicados da investigação policial, utilizando para esse efeito, vários diálogos e monólogos aparentemente inúteis mas substancialmente importantes. As inúmeras sequências de acção que pautam o desenvolvimento e a conclusão são apimentadas por inúmeros efeitos especiais de qualidade que lhes fornecem alguma adrenalina artificial. As excitantes perseguições e os impossíveis combates são apenas alguns exemplos dessas cativantes mas irrealistas sequências. O elenco pouco acrescenta à qualidade geral do filme. Bruce Willis apresenta-nos uma postura profissional praticamente idêntica à dos seus últimos grandes trabalhos cinematográficos, ou seja, não desilude mas também não convence. Radha Mitchell também se restringe aos serviços mínimos, não convencendo como substituta ou como humana.
Os espectadores menos existentes poderão encontrar alguns elementos de qualidade nesta obra, como por exemplo, uma interessante capacidade de entreter o espectador através de explosivas sequências de acção, no entanto, os restantes consumidores cinematográficos poderão sentir algumas dificuldades em encontrar alguns atractivos nesta simples produção de ficção cientifica.


Classificação – 2,5 Estrelas Em 5

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