Crítica - Le Mépris (1963)

Realizado por Jean-Luc Godard
Com Brigitte Bardot, Michel Piccoli, Fritz Lang

Le Mépris (O desprezo) realizado por um dos mais empreendedores nomes da Nouvelle Vague a partir de um romance de Alberto Moravia é um filme sobre o abismo entre o cinema de Hollywood e o cinema de autor. Fritz Lang, interpretando-se a si mesmo, filma a inefilmável Odisseia de Homero em Capri, mas a Prokosch (Jack Palance) não agrada esta maneira de filmar e contrata Paul Javal (Michel Piccoli) para reescrever o argumento. Neste contrato Prokosch toma por seu o assédio à belíssima mulher de Javal, Camille (Brigitte Bardot). Esta troca leva Camille a desprezar o marido por a ter vendido e ao seu próprio talento por dinheiro. O filme que consegue um final trágico e inesperado alimenta um claro paralelismo entre as personagens e os protagonistas da Odisseia, Javal/ Ulisses, Camille/Penélope e Prokosch/ Poseidon. A mitologia clássica está constantemente presente também através de estátuas da Antiguidade curiosamente pintadas com as cores originais que o tempo apagou naquelas que chegaram aos nossos dias.
Esta dicotomia entre as grandes produções de Hollywood e um modo mais caseiro mas mais artístico de filmar foi sentida pelo próprio Godard ao rodar este filme que contou com um grande orçamento e a super-estrela Brigitte Bardot. O filme apresenta lindíssimas paisagens do verão em Capri, na Villa Malaparte, e uma fotografia excelente de Bardot. A obra inicia-se mesmo com um nu da actriz, algo misógino, porque Paul tenta provar como mal se apresenta uma câmara a uma rapariga esta mostra logo o rabo. Reflectindo sobre a própria arte de fazer filmes, Le mépris está repleto de citações de nomes grandes da sétima arte e dos próprios colaboradores dos Cahiers du Cinéma colegas de Godard.
Uma pergunta que não consigo deixar de fazer a mim mesma é como é que Bardot que conviveu tão intimamente com um ícone da esquerda francesa como Godard é hoje casada com um política da extrema-direita de Le Pen. O filme está disponível em DVD numa edição Universal Studios que inclui também os documentários Paparazzi e Bardot & Godard.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. As Estátuas não são pintadas como seriam na eepoca, há uma clara alusão ao cinema francês que copiava o modelo de produção estadunidense. O filme milita nessa área ao escolher um diretor que faz o papel dele mesmo Fritz Lang. Logo na primeira cena Camille representa as cores da França a escolha de uma câmera em voga nos filmes de Western norte americano já é um prenúncio de que é um filme sobre cinema livre. Camille não se sente traída, ela trai, em alusão a França que caminha para o mesmo destino que a Itália. A produção é ítalo frnacesa por este mesmo motivo. A crítica não procede quando compara que o diretor interpretado por mICLELL Picolli, como Paul. Este se vê num dilema aceitar mudar um roteiro que a cada fotograga concorda com Fritz Lang. O final é trágico Camille o abandona por dinheiro e não o contrário

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