Crítica - Shotgun Stories (2007)

Realizado por Jeff Nichols
Com Michael Shannon, Douglas Ligon, Barlow Jacobs

Entre 2007 e 2008, “Shotgun Stories” foi qualitativamente aclamado mas comercialmente ignorado. As inúmeras críticas positivas que recebeu foram abafadas pelo desinteresse comercial dos grandes estúdios e distribuidoras, que praticamente condenaram este portentoso drama sobre vingança familiar a uma distribuição internacional muito limitada e economicamente desprovida, algo que impediu uma valorosa e digna apresentação ao público. Esse desinteresse comercial também afectou os espectadores nacionais, que só agora têm a oportunidade de visionar esta grande produção independente nos cinemas nacionais.
Esta valorosa obra cinematográfica, dirigida pelo estreante Jeff Nichols, conta-nos a história de três irmãos que foram abandonados pelo pai, um homem aparentemente violento e alcoólico. A sua situação familiar é piorada pelo crescente rancor da sua mãe que os culpa veemente pelo doloroso abandono. Longe desta família claramente disfuncional, o pai desaparecido acabou por endireitar a sua vida e, após uma longa recuperação religiosa, acabou por formar um novo clã familiar com uma afável companheira de quem teve quatro filhos. É depois da sua morte que irrompe o conflito entre os dois grupos de meios-irmãos que, entre os campos de algodão e as estradas do Arkansas, vão descobrir até onde estão dispostos a ir para proteger a dignidade da sua verdadeira família. Esta complexa e vingativa história é nos contada através do ponto de vista dos três irmãos (Son, Bo e Kid), que desprezam assumidamente a privilegiada vida dos seus quatro meios-irmãos que tiveram o benefício de poder crescer no seio de uma família normal e eficiente. Através de múltiplas sequências narrativas que apresentam uma ampla variedade de características bélicas e dramática, “Shotgun Stories” vai desenvolvendo e aprofundando uma série de temas relacionados com vingança e violência que preparam o grande final da história que, após tanto ódio e rancor, só poderá ter um final verdadeiramente explosivo.
A realização de Jeff Nichols é bastante segura e criativa, apostando em vários planos de grande proximidade subjectiva que premitem um melhor entendimento dos sentimentos dos três grandes protagonistas. A fotografia de Adam Stone também surpreende, porque aposta em amplas e belas paisagens bastante áridas e enigmáticas que ajudam a reforçar a filosofia violenta e solitária da história. O elenco é liderado por Michael Shannon, que assumiu categoricamente o protagonismo do filme e mostrou à crítica internacional o seu grande potencial que, três anos depois, viria a ser reconhecido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos da América.
Em suma, “Shotgun Stories” é composto por vários elementos de qualidade que convergem num resultado final bastante agradável e interessante, que deverá agradar a uma ampla variedade de espectadores.

Classificação – 4 Estrelas Em 5