Crítica - The Duchess (2008)

Realizado por Saul Dibb
Com Charlotte Rampling, Keira Knightley, Ralph Fiennes

A história inglesa é bastante fértil em contos e rumores polémicos. Muitas dessas histórias têm como personagens principais, alguns dos nobres mais influentes e populares daquele país. Todos nós já ouvimos as histórias da dinastia dos Tudors e da mítica Rainha Elisabeth I, no entanto, também existem diversos contos polémicos sobre membros da nobreza inglesa menos poderosos que a casa real, mas igualmente polémicos. Uma dessas histórias é a de Georgiana Spencer a Duquesa de Devonshire, uma figura que marcou com a sua forte personalidade carismática e reconhecida beleza o final do século XVIII em Inglaterra. A escritora inglesa Amanda Foreman elegeu a vida desta imponente figura histórica britânica como tema central da sua tese de doutoramento, tese essa que posteriormente deu origem ao livro “Georgiana, Duchess of Devonshire”, uma obra literária que por sua vez originou este “The Duchess”, um poderoso drama histórico biográfico que agora nos chega às salas de cinema pelas mãos de Saul Dibb.
O filme leva-nos numa viagem dramática e polémica até aos meandros sociais da nobreza inglesa do século XVIII. É neste restrito círculo social que encontramos Georgiana Spencer, uma mulher nobre de nascimento que foi obrigada a casar muito jovem com o velho mas poderoso Duque de Devonshire. O seu casamento nunca foi pautado pela felicidade, mas sim pelo respeito e submissão às vontades do Duque. Entre várias exigências, Georgina viu-se forçada a aceitar e manter uma relação a três com a amante do seu marido, Bess Foster, que ironicamente era também a sua melhor amiga. No entanto, Georgina serviu-se do seu casamento e do seu estatuto influente para travar laços de amizade com vários membros da nobreza e política inglesa e, após alguns anos de insatisfação, esta mãe dedicada e ícone da moda, dedicou-se à vida política e a várias causas sociais, nomeadamente à luta pelos direitos das mulheres. A determinada Duquesa encontrou finalmente o amor no político e futuro primeiro-ministro britânico Charles Grey, no entanto, a sua relação nunca ultrapassou o estatuto de caso extraconjugal porque, por amor aos filhos, a duquesa sempre recusou deixar o marido.
Muitos comparam a vida de Georgina à história contemporânea de Diana, Princesa de Gales. Esta comparação não é descabida, porque para além de partilharem uma ligação de sangue, estas duas imponentes figuras femininas inglesas partilham diversas características pessoais e sociais. Entre as várias semelhanças destaco particularmente o seu inegável e extremado amor pelos seus filhos, a sua enorme paixão pela moda e pelas tendências culturais, a sua árdua luta por diversas causas sociais e o seu latente azar matrimonial, já que nenhuma destas mulheres foi verdadeiramente feliz no seu casamento precoce. “The Duchess” foca-se principalmente nesse tema, ou seja, nas duas grandes relações amorosas de Georgina: o seu casamento e o seu caso extraconjugal mais célebre. Ao longo do filme acompanhamos o constante descambar do casamento de Georgina, ou seja, vemos como a sua relação com o Duque nunca foi muito feliz e que ficou pior com a inclusão dum terceiro membro, uma suposta melhor amiga de Georgina. Vemos também que a Duquesa vingava as suas frustrações nos seus convívios sociais, apresentando-se sempre como uma das mulheres mais bonitas e bem vestidas das festas. A sua classe e carisma, rapidamente catapultaram-na para a vida política onde soube utilizar todas as suas artimanhas para conquistar o público. A história do filme também retrata muito bem a sua tórrida paixão pelo brilhante político Charles Gray e os sucessivos drama que dela advieram. No fundo, este drama histórico retrata a frustração duma mulher que nunca obteve uma concretização sólida no campo amoroso, mas que nos outros aspectos da vida conseguiu sempre singrar já que foi durante anos um ícone da moda inglesa, uma respeitável força política e uma exemplar mãe.
O enredo traça muito bem as diferenças entre as relações amorosas de Georgina, onde são bem visíveis os choques de sentimentos e emoções que se dão entre os diversos protagonistas. Só quando Georgina atinge o “quadrado amoroso” é que saboreia finalmente um pouco de amor verdadeiro e respeito por si própria. O argumento também traça muito bem a evolução no seu perfil e mentalidade. A Duquesa começa por ser uma mulher restringida ao seu casamento, mas com o passar do tempo começa a tornar-se mais independente e aberta a novos desafios sociais. Em termos comparativos, a evolução pessoal de Georgina assemelha-se muito à da malograda rainha francesa Marie Antoinette (curiosamente as duas eram amigas cordiais na vida real), enquanto jovens eram bastante tímidas mas com o passar dos anos, tornaram-se mais extravagantes e aguerridas.
Este drama histórico é realizado por Saul Dibb, um cineasta algo inexperiente que tem neste “The Duchess” o seu primeiro grande trabalho comercial. No entanto, Dibb conseguiu arrancar um bom filme que faz jus à conhecida história de Georgina. A sua realização é bastante simples e pouco provocante. É certo que um pouco mais de polémica não faria mal nenhum ao filme, mas esta versão simplista também se mostra capaz de agradar bastante. Um dos pontos mais interessantes e positivos do filme é o seu guarda-roupa. A equipa que esteve por detrás desta componente assessoria e técnica, levou a cabo uma tarefa difícil mas brilhantemente executada, já que todas as vestimentas enquadram-se perfeitamente no correcto cenário da época. É também necessário dar os parabéns ao departamento de caracterização que imitou na perfeição as maquilhagens e penteados exagerados da época.
A Duquesa de Devonshire é brilhantemente interpretada por Keira Knightley, que mais uma vez regrediu no tempo para assumir o protagonismo num drama histórico. Esta bela e talentosa actriz britânica voltou a deslumbrar o mundo, com a sua enorme capacidade em interpretar personagens difíceis e complexas. O Duque de Devonshire é interpretado por Ralph Fiennes, um actor bastante conhecido e igualmente experiente que também assume aqui uma prestação competente e agradável. Esta biografia cinematográfica com contornos dramáticos, foi sem dúvida uma das agradáveis surpresas de 2008. Desde que Sofia Coppola nos apresentou “Marie Antoinette” em 2006, que não tinha o prazer de assistir a um drama biográfico sobre uma polémica figura feminina e nobre de tamanha qualidade.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. Apesar de não ser nada de extraordinário, devo dizer que acabei por gostar bastante. É o típico filme de época, com excelentes interpretações (Ralph Fiennes e Keira Knightley), um enredo muito bem construido e cativante, um guarda-roupa excelente, enfim, recomendo vivamente!

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