Crítica – Torn Curtain (1966)

Realizado por Alfred Hitchcock
Com Paul Newman, Julie Andrews

Assistir a um filme de Hitchcock é sempre uma lição de cinema. Apesar de ter sido muito mal recebido pela crítica, este filme, que já na altura teve sucesso nas bilheteiras, apresenta os elementos que distinguem a genialidade do realizador. Michael Armstrong (Paul Newman) é um cientista americano que vai para Berlim Oriental colaborar com os comunistas por alegadamente não encontrar no seu país o acolhimento que desejava para as suas ideias. Nessa fuga é seguido pela namorada Sarah Sherman (a recém-galardoada Julie Andrews) e assistente pessoal que, nada sabendo, julga encontrar no noivo um traidor mas ainda assim não o abandona. Pressionado pelas circunstâncias e depois de tentar tudo para demover Sarah, Armstrong vê-se obrigado a revelar-lhe o secretismo a sua missão, fazer-se passar por um colaborador quando de facto se encontrava em Berlim para roubar um fórmula essencial para as misteriosas pesquisas, das quais apenas sabemos que envolvem um projecto chamado Gama 5, que intuímos estarem relacionadas com a armas nucleares. Sempre divididos entre a organização secreta que os ajuda e os comunistas que os perseguem, depois de descobertos, Amstrong e Andrews levam-nos à máxima angústia na sua fuga até ao momento final do filme em que conseguem finalmente descansar em solo sueco.
Há momentos de mestria nesta obra, criticada sobre tudo pela falta de consistência do argumento. Esses momentos são, por exemplo, a misteriosa apresentação de imagens subliminares do filme nos créditos iniciais colocando desde logo o espectador numa enorme sensação de ânsia que, como sempre, Hitchcock sabe trabalhar até ao final. Nesta obra o autor joga com a alternância de momentos de grande suspence e momentos de alívio aos quais se seguem novas angústias. Outra sequencia inesquecível é o assassínio de Gromeck (Wolfgang Kieling) perpetrado por Armstrong e uma mulher do campo pertencente à organização π. Hitchcock procurava com este assassínio tão demorado e no qual se utilizaram as mais domésticas armas mostrar como é difícil matar uma pessoa, ao contrário do que faziam crer os filmes de espiões da época. Também é de mestre o modo como os minutos iniciais do filme quase que prescindem totalmente do diálogo sendo o seu efeito substituído pela música. É nestes minutos que encontramos o casal metido entre os cobertores, quando todos os esperavam na conferência e é também enroscados sob as mantas que os deixamos na cena final do filme.
Talvez o enredo seja de facto pouco elaborado e pouco plausível mas esse aspecto a meu ainda engrandece mais o trabalho da direcção do filme que consegue, com uma história pobre, prender o espectador durante duas horas até literalmente ao minuto final. Também são interessantes as interpretações de Newman e Julie Andrews que chegam a assumir, no momento em que se confrontam, proporções de teatralidade. Last but not least a música original de John Addison daria só por si uma narrativa. O filme está disponível em DVD numa edição Universal Studios.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>