Crítica - Before the Devil Knows You´re Dead (2007)

Realizado por Sidney Lumet
Com Philip Seymour Hoffman, Ethan Hawke, Marisa Tomei, Albert Finney

Aos oitenta e quatro anos de idade, o experiente cineasta Sidney Lunet apresenta-nos “Before the Devil Knows You´re Dead”, um poderoso thriller dramático sobre a perda de poder dos valores morais em detrimento dos valores monetários e capitalistas. A história do filme centra-se na vida dos irmãos Hanson, Andy (Philip Seymour Hoffman) e Hank (Ethan Hawke). O primeiro é um viciado em drogas cuja carreira de executivo se está a desmoronar, e o segundo é um pai divorciado coberto de dívidas mas que todos os meses tem que dar dinheiro à sua ex-mulher para ajudar com as despesas da filha. A sua necessidade por dinheiro, leva-os a engendrarem um plano para assaltar a joalharia dos pais de forma a suprimir as suas dívidas e problemas. O plano parecia fácil, pois eles conhecem bem o funcionamento do estabelecimento, mas no dia do roubo tudo corre mal. Os dois esperavam encontrar a joalharia vazia, mas a mãe deles aparece de surpresa na hora do roubo e acaba por morrer acidentalmente. O pai de Andy e Hank jura vingar-se a qualquer custo dos culpados, sem saber no entanto que os assaltantes são os seus próprios filhos. Agora os dois irmãos terão de lidar com as repercussões do seu trágico plano e enfrentar os problemas que se avizinham.
A estreante guionista Kelly Masterson apresenta-nos um argumento recheado de tensão, drama e humor negro que coloca em evidência o dinheiro e a sua capacidade de corromper moralmente o ser humano e o meio onde ele vive. Através de uma narrativa complexa e repleta de quebras entre o passado, presente e futuro analisamos os vários pontos de vista das principais personagens do filme que vão acompanhando o desenrolar da história de forma desigual e ambígua. Os diálogos do filme estão muito bem elaborados, o que enriquece ainda mais a capacidade dramática da obra. Entre os diálogos mais ricos em drama e tensão estão as múltiplas conversas entre os irmãos Andy e Hank, bem como os diálogos sexualmente tensos entre Hank e a sua cunhada Gina. São estes diálogos ricos e conturbados que mais contribuem para o perfeito desenvolvimento das principais personagens do filme. À medida que o enredo se adensa cada personagem começa a sofrer mutações na sua personalidade e na sua moral. Estas modificações vão ter claras repercussões na forma como cada personagem termina a história, sendo certo que nenhuma termina como começou. O final chega-nos portanto rodeado de suspence e tensão, contudo desenvolve-se rápido de mais, deixando algumas questões sem resposta o que o torna no único ponto negativo deste cativante argumento.
Juntamente com Kelly Masterson, o icónico realizador Sidney Lunet, assume-se como o principal responsável pela grande qualidade do filme. Ao juntar a qualidade do argumento com a sua experiência, Lunet criou várias cenas de elevado teor sentimental e dramático que espelham da melhor forma o espírito e a moral da história original. O cineasta criou também cenas bastante irónicas e humorísticas que, na sua generalidade, criam paradoxos e metáforas entre a história de vida das personagens e o meio que as rodeia. Para além disto, Lunet lidou também muito bem com os avanços e recuos da história, já que esta em nenhum momento se torna confusa ou repetitiva. O cineasta também soube impingir o ritmo necessário à obra, impedindo que esta se torne maçuda ou enfadonha. Em suma, Lunet usou novas e velhas técnicas cinematográficas para criar um cenário que combina perfeitamente com a visão original do argumento, no entanto, é bastante claro que conduziu a obra à sua maneira, introduzindo-lhe alguns aspectos pessoais que atribuíram mais classe mas principalmente mais profundidade e pormenorização à história original.
O elenco mostra-se também ele a um grande nível, principalmente Philip Seymour Hoffman que dá vida ao desesperado mas ambicioso Andy Hanson, uma personagem difícil e bastante complexa que passa por diversas mudanças ao longo do filme e que se assumia portanto, como um trabalho difícil para qualquer actor, contudo Philip Seymour Hoffman soube lidar muito bem com a importância do papel e com a sua dificuldade o que originou uma performance muito boa e digna de todos os elogios possíveis. Ethan Hawke também se dá bastante bem na pele do endividado Hank Hanson, no entanto, a sua performance fica alguns níveis abaixo da apresentada pelo seu colega Philip Seymour Hoffman, algo perfeitamente compreensível até porque a diferença de qualidades entre os dois é bem visível. Marisa Tomei e Albert Finney apresentam boas performances secundárias que são dignas de registo. Graças a um argumento ambicioso e bem elaborado que teve a sorte de ser acompanhado e desenvolvido por um cineasta experiente e por um elenco talentoso, “Before the Devil Knows You´re Dead” assume-se como um grande filme que consegue combinar na perfeição situações tensas e dramáticas, ao mesmo tempo que conta uma história interessante e repleta de avisos para o mundo real.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

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2 Comentários

  1. Vergonhosamente não o encontro em nenhuma cinema perto de mim. Nem mesmo o Arrábida, um cinema com 30 salas, o tem. Não sei qual o propósito de excluir uma fita como esta mas espero honestamente que ganhem juízo e o passem nas salas.

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  2. Pois, só estão em exebição nos cinemas Medeia.

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