Crítica - Tropa de Elite (2007)

Realizado por José Padilha
Com Wagner Moura, André Ramiro, Caio Junqueira, Maria Ribeiro

Uma maravilha, assim é este “Tropa de Elite", um trepidante filme de acção brasileiro que nos apresenta uma visão realista da onda de violência no Brasil e da ampla teia de corrupção que varre diariamente todos os sectores da sociedade. O filme desenrola-se em 1997 no Rio de Janeiro, onde o mundo do crime é liderado pelas diversas milícias de traficantes de droga que têm o controlo total das várias favelas e onde a polícia pouco ou nada pode fazer para acabar com esse perigoso domínio. A força de elite BOPE (Batalhão de Operações Especiais) é a única que tem os meios para combater da forma mais eficaz possível o tráfico de drogas. Operando através de eficazes ataques às favelas, o BOPE consegue, na maior parte das vezes, controlar e minimizar os efeitos do mercado ilegal na população, contudo, as suas acções tornam difícil a distinção entre o bem e o mal e entre a justiça e a vingança, devido ao seu amplo grau de violência e crueldade. A história de “Tropa de Elite” divide-se em duas mini-histórias que se vão interligando à medida que o filme se desenvolve. Uma delas centra-se no Capitão Nascimento da Força BOPE (Wagner Moura), que se vê confrontado com uma dura crise familiar e laboral, que engloba a gravidez da sua mulher e a pressão diária do seu perigoso trabalho. A outra mini-história foca-se em dois dos novos recrutas da BOPE, Neto (Caio Junqueira) e Matias (André Ramiro), que cumprem um sonho de infância ao alistar-se nesta força especial, mas que poderão não conseguir sobreviver à dura e cruel realidade da BOPE.
Como é facilmente perceptível, o filme centra-se na situação de vida das favelas que rodeiam o Rio de Janeiro, contudo ao contrário de outras obras brasileiras que no passado trataram este tema com um certo dramatismo (“Cidade de Deus”), “Tropa de Elite” aborda-o de uma forma mais violenta e cruel, utilizando a visão das BOPE para credibilizar e autenticar a violência e a miséria vividas nesses locais, bem como a corrupção que se alastra das favelas às mais altas instancias do governo. “Tropa de Elite” é um filme duro mas bem demonstrativo da triste realidade da criminalidade brasileira. Durante grande parte do filme abordam-se vários aspectos e pormenores relativos às favelas e ao mundo do crime nelas inserido. Vemos portanto como se desenvolvem as transacções ilegais de droga e como os “inocentes” das favelas pouco ou nada podem fazer contra a hegemonia imperial dos traficantes. Por outro lado observamos também o dia-a-dia da única brigada policial capaz de fazer frente ao crime organizado das favelas, no fundo os principais inimigos daqueles que vivem do dinheiro gerado pela droga. Quando estão em serviço os membros da BOPE são implacáveis máquinas de guerra que não podem sentir um pingo de emoção quando fazem o seu trabalho, contudo nem sempre isso acontece o que por vezes pode ser fatal, no fundo cada membro da BOPE é um ser humano distinto, com valores e sentimos. De certa forma, a vida familiar do Capitão Nascimento e os fortes laços de amizade entre Neto e Matias mostram-nos esse lado mais humano e dramático, um lado que por vezes é esquecido ou ignorado.
Outro tema brilhantemente abordado por “Tropa de Elite” é a corrupção, mais um grande problema do Brasil e de todos os países com uma taxa de criminalidade, porque no fundo o crime atrai a corrupção. O filme demonstra que a corrupção atinge todos os campos da sociedade até a própria policia, criada para combater quem corrompe e quem é corrompido. O ritmo narrativo da obra é excelente. As quase duas horas de filme são relatadas de forma soberba, já que cada cena se desenvolve a um ritmo prático e perceptível que não deixa o espectador aborrecer-se ou distrair-se. O elenco apresenta actuações muito correctas e acima da média. Caio Junqueira e André Ramiro brindam o público com uma boa prestação, mas é Wagner Moura que mais se destaca pela positiva. Moura conseguiu personificar de uma forma notável a essência de um líder, de um homem forte psicologicamente que tem que enfrentar diariamente os perigos de uma cidade inquietante, uma actuação notável digna de todos os elogios.
Tecnicamente o filme apresenta pormenores muito bons. O trabalho de câmara de José Padilha é fenomenal. A história é captada através dos ângulos mais correctos e realistas possíveis, de forma a transmitir uma experiência o mais real possível ao espectador. As cenas de acção, por exemplo, foram filmadas a um ritmo vertiginoso e de uma forma muito ampla através de planos que permitem ao espectador sentir e cheirar a acção que está a decorrer. Para compreender o que acabei de dizer só é preciso assistir a algumas cenas do filme, como as entradas da BOPE nas favelas. O filme pode não ter a exuberância e os recursos tecnológicos de Hollywood, mas tem muita dedicação e muito talento que o transforma numa experiência mais que positiva. Concluindo, “Tropa de Elite” é mais uma grande obra brasileira. Todo o filme é interessante, não sendo porém aconselhável aos mais novos devido à natureza violenta da obra. José Padilha oferece-nos uma visão cruel mas realista do dia-a-dia carioca, uma visão que levantou uma onda de debate pelo Brasil e que poderia fazer o mesmo em Portugal, não temos favelas mas temos uma taxa de criminalidade cada vez mais alta.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Adorei este filme e concordo em quase tudo com a tua crítica. Queria só acrescentar que a ideia inicial era denunciar a violência a que o BOPE recorre para a tingir os seus fins, no entanto, a fronteira entre o certo e o errado é ténue e o efeito foi o contrário. Independentemente de se tratar de justiça ou de vingança, acho que não conseguimos, depois de visionarmos este filme, deixar de admirar e muito estes guerreiros idealistas no meu do caos das favelas brasileiras dominadas pelos narcotraficantes.

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  3. Que beleza de crítica. Que beleza de filme!

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